segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vanusa e seus seis maridos


Por: Paula Quental

Depoimento de 1998

A cantora volta à cena ao revelar em livro e em espetáculo os conflitos nos casamentos e com o pai

De todos os 23 discos lançados em 32 anos de carreira, nenhuma expressa melhor o atual estado de espírito de Vanusa do que Sobrevivo de 1981, produzido por Paulo Coelho. Ainda longe de ser o escritor famoso de hoje, Coelho foi o autor da versão em português de "I Will Survive", regravada pela cantora depois de ficar famosa na voz da norte-americana Gloria Gaynor. Aos 52 anos, Vanusa Santos Flores sente-se exatamente como na música que foi o carro-chefe do antigo disco: uma sobrevivente, de seis casamentos conturbados e da violência doméstica de que foi vítima desde a infância. Esse é o tom do espetáculo que ela estréia no Teatro Santa Catarina, em São Paulo, em 12 de novembro, e no qual pretende fazer revelações ainda mais doloridas do que as que constam de sua autobiografia, Vanusa - Ninguém é Mulher Impunemente, lançada há um ano. "Vou me expor e confessar que fui covarde porque apanhei de alguns maridos e não os denunciei para não prejudicar minha carreira", diz.

Há cinco anos sem gravar e apresentando-se apenas eventualmente, Vanusa está ansiosa para voltar a pisar um palco em longa temporada. O repertório musical não será o principal do espetáculo, concebido pela jornalista e amiga de 25 anos Léa Penteado e batizado de Ninguém é Loura por Acaso. As confidências roubarão a cena. Natural para quem está em fase de passar a limpo a própria vida. Vanusa se isolou por quatro anos (entre os 45 e os 49) em Saquarema, litoral do Rio, vivendo o penúltimo e mais predatório dos seus relacionamentos conjugais. Nesse período, converteu-se ao budismo e dedicou-se à pintura e ao livro.

Com medo de ameaças, não revela o nome do sexto companheiro e nem o cita na autobiografia - que, fora isso, não faz segredo de mais nada. Vanusa conta em detalhes os casamentos com o cantor e compositor Antônio Marcos, que morreu em 1991, com o diretor da Rede Globo Augusto César Vanucci, morto no mesmo ano, o jogador de futebol Ademir Vicenti, o empresário Francisco Machado Cotta e o empresário artístico Walter Viúdes Júnior. Com este último, o quinto da lista, Vanusa está vivendo a experiência de um sétimo casamento, em casas separadas. Foi o único com quem entrou na igreja, de véu e grinalda. Os dois têm juntos um sítio perto de Itu, no interior de São Paulo, onde reúnem toda a família: Vanusa com seus três filhos - Amanda, 28 anos, Aretha, 24, e Rafael, 21 - e os quatro netos. A cantora também relata alguns romances, como o que teve com o cantor Wanderley Cardoso, pouco depois de chegar a São Paulo, aos 19 anos, vinda do interior de Minas Gerais. Foi o primeiro homem da sua vida, mas a relação não significou nada perto da que teve com Antônio Marcos, de quem se separou por causa do alcoolismo dele. Cardoso conseguiu uma liminar na Justiça para proibir o livro e depois fez um acordo com Vanusa, que aceitou retirar três frases que o incomodavam.

Sobre os rompimentos com os maridos, ela conta que em todo o motivo foi o mesmo: "Chegava um momento em que eles queriam que eu parasse de cantar", conta ela. A cada separação, saía de casa levando, além dos filhos, livros, discos e um velho gramofone, presente de Antônio Marcos. Feminista desde adolescente, mesmo sem saber o significado do termo, Vanusa colocou sua profissão acima de qualquer coisa. Levou, mas também deu, "muita porrada". De Vanucci, ganhou um soco na nuca, na saída do Canecão, no Rio, após assistir a um show de Ray Conniff. De Cotta, foi uma cabeçada, que lhe atingiu o supercílio e causou um derrame em um dos olhos. Os socos e pontapés também tinham como alvo contratantes de seus shows. Certa vez, fugiu de um show no interior de Pernambuco debaixo de tiros, só porque se recusou a sentar à mesa do coronel local. Bateu, para não apanhar, no próprio pai, Luiz Flores. Foi no fim dos anos 60, quando contou que não era mais virgem. O pai saiu de casa e não voltou mais.

Vanusa também é franca ao falar do sucesso. "Aos 34 anos eu tive uma grande crise ao sacar que a minha carreira podia acabar. E estava no auge", conta ela, que anos depois foi fazer terapia com Walter Galego, seu terapeuta até hoje. "Galego me disse: sabe por que muitos artistas acabam na miséria, no álcool ou nas drogas? Porque a adrenalina é uma droga poderosa, e quando acaba aquela sensação mágica de quando se está no palco, é duro encarar a realidade", conta ela. Nessa época, Vanusa tornou-se espiritualista.

No espetáculo, ela vai dizer às mulheres que nunca devem abdicar dos seus sonhos. "Eu mesma estou realizando um, que é o de ser atriz." Vanusa atuou em Hair, em 1973, quando ouviu do diretor, Altair Lima, que nunca mais deveria deixar o teatro. "Vanusa sempre teve uma carga dramática na interpretação de suas músicas, ela é uma atriz e estamos explorando isso no espetáculo", diz a amiga Léa.


http://www.terra.com.br/istoegente/13/reportagens/rep_vanusa.htm

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