Cazuza (nome
artístico de Agenor de Miranda Araújo Neto; Rio de Janeiro, 4 de abril de 1958 — Rio de
Janeiro, 7 de julho de 1990) foi um cantor e compositor brasileiro que
ganhou fama como vocalista e principal letrista da
banda Barão Vermelho.[1] Sua
parceria com Roberto Frejat foi criticamente aclamada.
Dentre as composições famosas junto ao Barão
Vermelho estão "Todo Amor que Houver Nessa Vida", "Pro
Dia Nascer Feliz", "Maior Abandonado", "Bete Balanço"
e "Bilhetinho Azul".
Cazuza é
considerado um dos maiores compositores da música brasileira. Dentre seus sucessos musicais
em carreira solo, destacam-se "Exagerado", "Codinome
Beija-Flor", "Ideologia", "Brasil", "Faz Parte do
meu Show", "O Tempo não Pára" e "O Nosso Amor a Gente Inventa".
Cazuza também ficou conhecido por ser rebelde, boêmio e polêmico, tendo
declarado em entrevistas que era bissexual. Em 1989 declarou ser soropositivo(termo
usado para descrever a presença do vírus HIV, causador da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida - AIDS - no sangue) e sucumbiu à doença em 1990, no Rio
de Janeiro.
Biografia - Infância
e adolescência
Filho de João
Araújo, produtor fonográfico, e de Lucinha
Araújo, Cazuza recebeu o apelido mesmo antes do nascimento.
Agenor, seu verdadeiro nome foi recebido por insistência da avó paterna.[1] Na
infância, Cazuza nem sequer sabia seu nome de batismo, por isso não
respondia à chamada na escola. Só mais tarde, quando descobre que um dos
compositores prediletos, Cartola, também se chamava Agenor (na
verdade, Angenor, por um erro do cartório), é queCazuza começa a aceitar o
nome.[2]
Cazuza sempre
teve contato com a música. Influenciado desde pequeno pelos grandes nomes da música brasileira, ele tinha preferência pelas
canções dramáticas e melancólicas, como as de Cartola, Dolores
Duran, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Maysa eDalva
de Oliveira. Era também grande fã da roqueira Rita Lee,
para quem chegou a compor a letra da canção "Perto do fogo", que Rita
musicou. Cazuza cresceu no bairro do Leblon e estudou
no Colégio Santo Inácio até mudar para o
Colégio Anglo-Americano, para evitar reprovação. Como os pais às vezes saíam à
noite, o filho único ficava na companhia da avó materna, Alice.[3] Por
volta de 1965 começou a escrever letras e poemas, que mostrava à avó. Graças ao
ambiente profissional do pai, Cazuza cresceu em volta dos maiores nomes da música popular brasileira, como Caetano
Veloso, Elis Regina, Gal Costa, Gilberto
Gil, João Gilberto, Novos
Baianos, entre outros. A mãe, Lucinha Araújo, também cantava e gravou três
discos.
Em 1972,
tirando férias em Londres, Cazuza conheceu as canções de Janis
Joplin, Led Zeppelin e Rolling
Stones, e logo tornou-se um grande fã. Por causa da promessa do pai, que
disse que lhe presentearia com um carro caso ele passasse no vestibular, Cazuza
foi aprovado em Comunicação em 1976, mas desistiu do curso três semanas depois.
Mais tarde começou a frequentar o Baixo
Leblon, onde levou uma vida boêmia. Assim, João
Araújo criou um emprego para ele na gravadora Som Livre,
da qual ainda é presidente.[3] NaSom Livre,
Cazuza trabalhou no departamento artístico, onde fez triagem de fitas de novos
cantores. Logo depois trabalhou na assessoria de imprensa, onde escreveu releases para
divulgar os artistas. No final de 1979 fez um curso de fotografia na Universidade da Califórnia em
Berkeley, Estados Unidos. Lá, descobriu a literatura da Geração
Beat, os chamados poetas malditos, que mais tarde teria grande influência
na carreira. Em 1980 retornou ao Rio
de Janeiro, onde ingressou no grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Tromboneno Circo
Voador.[2] Foi
nessa época que Cazuza cantou em público pela primeira vez. O cantor e
compositor Léo Jaime, convidado para integrar uma nova banda de rock
de garagem que se formava no bairro carioca do Rio
Comprido não aceitou, mas indicou Cazuza aos vocais. Daqueles ensaios
na casa do tecladista Maurício
Barros, nasceu o Barão
Vermelho.[4]
Barão
Vermelho
O Barão Vermelho, que até então era formado
por Roberto Frejat (guitarra), Dé
Palmeira (baixo), Maurício
Barros (teclados)
e Guto
Goffi (bateria),
gostou muito do vocal berrado de Cazuza. Em seguida, Cazuza mostra
à banda letras que havia escrito e passa a compor com Roberto
Frejat, formando uma das duplas mais festejadas do rock
brasileiro.[5] Dali
para frente, a banda que antes só tocava covers passa a criar um
repertório próprio. Após ouvir uma fita demo da banda, o produtor Ezequiel
Neves convence o diretor artístico da Som Livre, Guto Graça Mello, a gravar a banda.[3] Juntos
convencem o relutante João
Araújo a apostar no Barão.
Com uma
produção barata e gravado em apenas dois dias, é lançado em 1982 o primeiro
álbum da banda, Barão Vermelho. Das canções mais
importantes, destacam-se "Bilhetinho Azul", "Ponto Fraco",
"Down Em Mim" e "Todo Amor Que Houver Nessa Vida". Apesar
de ser aclamado pela crítica, o disco vendeu apenas sete mil cópias.[3] Depois
de alguns shows no Rio de Janeiro e em São Paulo, a banda voltou ao estúdio e
com uma melhor produção gravou o disco Barão Vermelho 2, lançado em 1983. Esse disco
vendeu 15 mil cópias. Foi nessa fase que, durante um show no Canecão, Caetano
Veloso apontou Cazuza como o maior poeta da geração e criticou as
rádios por não tocarem a banda. Na época as rádios só tocavam pop brasileiro e
MPB. O rótulo de "banda maldita" só abandonou o Barão
Vermelho quando o cantor Ney
Matogrosso gravou "Pro Dia Nascer Feliz". Era o empurrão que
faltava, e a banda ganhou vida pública própria.
Maior Abandonado
e Rock in Rio
A banda foi
convidada a compor e gravar o tema do filme Bete
Balanço. A canção-título tornou-se um dos grandes clássicos da banda,
impulsionando o filme que vira sucesso de bilheteria. A canção também
impulsionou as vendas do terceiro disco do Barão, Maior
Abandonado, lançado em outubro de 1984, que conquistou disco de ouro,
registrando outras composições como "Maior Abandonado" e "Por
Que a Gente é Assim?". Em 15 e 20 de janeiro de 1985, o Barão Vermelho se
apresentou na primeira edição do Rock in Rio.[5]A
apresentação da banda no quinto dia tornou-se antológica por coincidir com a
eleição do presidente Tancredo Neves e com o fim daDitadura
Militar. Cazuza anunciou esse fato ao público presente e para comemorar,
cantou "Pro Dia Nascer Feliz".
"Não
divido nada, muito menos o palco"
Cazuza deixou
a banda a fim de ter liberdade para compor e se expressar, musical e
poeticamente. Em julho de 1985, durante os ensaios do quarto álbum, Cazuza deixou
o Barão Vermelho para seguir carreira
solo. Suspeita-se que nesse mesmo ano começou a ter febre diariamente,
indícios da AIDS que
se agravaria anos depois. Ezequiel
Neves (faleceu no dia 7 de julho de 2010), que trabalhou com o Barão,
dividiu-se entre a banda e a carreira solo de Cazuza. "Fui
'salomônico'", declarou em entrevista ao Jornal do Commercio, em 2007, quando
Cazuza completaria 49 anos.
Carreira
solo - Exagerado e Só Se For A Dois
Em agosto de
1985, Cazuza é internado para ser tratado por uma pneumonia. Cazuza exigiu
fazer um teste de HIV,
do qual o resultado foi negativo. Em novembro de 1985 foi lançado o primeiro
álbum solo, Exagerado. "Exagerado", a faixa-título composta em
parceria com Leoni,
se torna um dos maiores sucessos e marca registrada do cantor.[5] A
canção "Só As Mães São Felizes" foi vetada pela censura. Gravou o
segundo álbum no segundo semestre de 1986; como a Som Livre rompeu
com seu elenco de artistas,Só Se For A Dois foi lançado pela PolyGram (agora Universal Music Group) em 1987. Logo depois,
a PolyGram contratou
Cazuza. Só Se For A Dois mostrou temas românticos
como "Só Se For A Dois", "O Nosso Amor A Gente Inventa",
"Solidão Que Nada" e "Ritual".
Ideologia e O
Tempo Não Pára
A AIDS se
manifestou em 1987; Cazuza foi internado com pneumonia, e
um novo teste revelou que o cantor era portador do vírus HIV. Em outubro,
Cazuza foi internado na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, para ser
tratado por uma nova pneumonia. Em seguida, ele é levado pelos pais aos Estados
Unidos. Lá, foi submetido a um tratamento a base de AZT durante dois
meses no New England Hospital, de Boston. Ao voltar
ao Brasil no começo de dezembro de 1987, Cazuza inicia as
gravações para um novo disco. Ideologiade 1988, inclui os hits "Ideologia",
"Brasil" e "Faz Parte Do Meu Show". "Brasil", em
versão de Gal Costa foi tema de abertura da telenovela Vale Tudo, da Rede Globo.
Os shows se
tornam mais elaborados e a turnê do disco Ideologia, dirigido por Ney
Matogrosso, viajou por todo o Brasil. O Tempo Não Pára, gravado no Canecão durante
esta turnê, foi lançado em 1989. O disco se tornou o maior sucesso comercial
superando a marca de 500 mil cópias vendidas. A faixa "O Tempo Não
Pára" tornou-se um de seus maiores sucessos. Também destacam-se "Todo
Amor Que Houver Nessa Vida" com um novo arranjo mais introspectivo,
"Codinome Beija-Flor" e "Faz Parte Do Meu Show". "O
Tempo Não Pára" também foi lançado em VHS pela Globo.[4]
Burguesia
Em fevereiro
de 1989 Cazuza declarou publicamente que era soropositivo,
ajudando assim a criar consciência em relação à doença e aos efeitos dela.
Compareceu na cerimônia do Prêmio Sharp numa cadeira de
rodas, e recebeu os prêmios de melhor canção para "Brasil" e de
melhor álbum para Ideologia. Burguesia (1989) foi gravado com o cantor
numa cadeira de rodas e com a voz nitidamente enfraquecida.[1] É
um álbum duplo de conceito dual, sendo o primeiro disco com canções de rock
brasileiro e o segundo com canções de MPB. Burguesia foi
o último disco gravado por Cazuza e vendeu 250 mil cópias.[2] Cazuza
recebeu o Prêmio Sharp póstumo de melhor
canção com "Cobaias de Deus".
Morte
Em outubro de
1989, depois de quatro meses a base de um tratamento alternativo em São Paulo,
Cazuza partiu novamente para Boston, onde ficou internado até março de 1990
voltando assim para o Rio de Janeiro. No dia 7 de julho de 1990, Cazuza morre
aos 32 anos por um choque
séptico causado pela AIDS. No enterro compareceram mais de mil
pessoas, entre parentes, amigos e fãs. O caixão, coberto de flores e lacrado,
foi levado à sepultura pelos ex-companheiros do Barão
Vermelho. Cazuza foi enterrado no cemitério São João Batista,
no Rio de Janeiro.[5]
Legado
Em apenas nove
anos de carreira, Cazuza deixou 126 canções gravadas, 78 inéditas e 34 para
outros intérpretes. Após sua morte, os pais fundaram a Sociedade Viva Cazuza, em 1990. A Sociedade Viva Cazuza tem como intenção
proporcionar uma vida melhor a crianças soropositivas através de assistência à
saúde, educação e lazer. Em 1997, a cantora Cássia
Eller lançou o álbum Veneno AntiMonotonia, que traz somente
composições de Cazuza.[1]
As canções de
Cazuza já foram reinterpretadas pelos mais diversos artistas brasileiros dos
mais diversos gêneros musicais. A Som Livre realizou o show Tributo a
Cazuza, em 1999,
posteriormente lançado em CD e DVD, do qual participaram Ney
Matogrosso, Barão Vermelho, Engenheiros do Hawaii, Kid Abelha, Zélia
Duncan, Sandra de Sá, Arnaldo
Antunes e Leoni. No ano 2000 foi exibido no Rio
de Janeiro e em São Paulo o
musical Casas de Cazuza, escrito e dirigido por Rodrigo Pitta, cuja
história tem base nas canções de Cazuza. Em 2004 foi lançado o filme biográfico Cazuza - O Tempo Não Pára de Sandra
Werneck.[4]
Artistas relacionados
Dentre
diversos artistas relacionados a Cazuza, estão Simone ("O
Tempo Não Pára" e "Codinome Beija-Flor"), Leoni (com quem
compôs o maior sucesso, "Exagerado"), Léo Jaime (que
apresentou Cazuza para a banda Barão Vermelho quando esta já estava formada e
precisando de um vocalista para completar a banda), Lobão, tanto
pela amizade com Cazuza quanto pela influência de um em outro, por ter sido
grande inspiração no começo da carreira[4], Cássia
Eller por ter sido a intérprete que mais gravou canções de Cazuza, Arnaldo
Antunes pela influência marcante, Bebel
Gilberto pela amizade e parceria em algumas canções, Ney
Matogrosso por ter sido namorado, Renato
Russo, por ter homenageado duas vezes o ex-vocalista do Barão (com a canção
em inglês Feedback Song For a Dying Friend e com a regravação de Quando
Eu Estiver Cantando no show Viva Cazuza, em 1990) e Frejat, por ter
sido um grande amigo e seu principal parceiro em composições musicais.[2]
Carreira solo
A vendagem de
álbuns de Cazuza praticamente dobraram após a sua morte; Ideologia e O
Tempo Não Pára chegaram à marca de 1 milhão de discos vendidos após a
morte do cantor no ano de 1990.[6]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cazuza
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